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PT perde poder na Câmara

Nos primeiros mandatos de Lula e no primeiro de Dilma, partido elegeu três presidentes da Casa e um aliado apoiado pelo Planalto

O período em que Luiz Inácio Lula da Silva ocupava a Presidência da República, outrora caracterizado pela facilidade do Partido dos Trabalhadores (PT) e do governo no Congresso Nacional, especialmente na Câmara dos Deputados, é uma fase superada. Durante os dois primeiros mandatos do líder petista, de 2003 a 2010, e no início do mandato de Dilma Rousseff, de 2011 a 2014, o PT desfrutava de uma posição mais influente e encontrava menos obstáculos do que nos dias atuais.

Naquela época, o partido de Lula, emergindo no Palácio do Planalto após três derrotas consecutivas, conseguiu eleger três presidentes da Câmara e um aliado do PCdoB: João Paulo Cunha (2003 a 2005), Aldo Rebelo (2005 a 2007), Arlindo Chinaglia (2007 a 2009) e Marco Maia (2011 a 2013). Atualmente, as perspectivas de um membro do Partido dos Trabalhadores (PT) conquistar tal posição são praticamente inexistentes, e enfrentará dificuldades até mesmo para estabelecer alguém do seu grupo político como sucessor de Arthur Lira (PP-AL) na eleição do próximo ano.

A conjuntura atual apresenta mudanças significativas. O paradigma do “toma lá dá cá” atingiu proporções ampliadas, as alocações de recursos por meio de emendas conferiram autonomia ao Congresso em relação ao Poder Executivo, e o Centrão demonstra persistente interesse por posições de destaque, encontrando-se mais robusto financeiramente. Neste momento, o governo confronta um presidente da Câmara que estabeleceu um recorde de votação. Arthur Lira alcançou 464 votos no primeiro turno, estabelecendo a marca mais elevada na história, e detém o controle da agenda de votações. Outro elemento a ser considerado é o período em que o país experimentou uma gestão de orientação conservadora e de direita, sob a liderança de Jair Bolsonaro (PL), resultando em uma oposição vigorosa ao petismo.
Na sequência da vitória de Lula, João Paulo Cunha foi eleito presidente da Câmara em 2003, obtendo 434 votos, a segunda maior contagem registrada até o momento. Atualmente, é desafiador imaginar que um candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) possa alcançar uma performance semelhante. O domínio dos aliados de Lula na liderança da Casa foi momentaneamente interrompido apenas pela inesperada ascensão de Severino Cavalcanti (PP-PE) em 2005, contudo, sua permanência no cargo foi breve, limitando-se a seis meses, sendo compelido a renunciar sob acusações de supervisão de um esquema de “mensalinho” nos restaurantes do edifício. Aldo Rebelo, do PCdoB, apoiado por Lula, o sucedeu e emergiu vitorioso.
Polarização

Para Marco Maia, a conjuntura atual do país difere substancialmente daquela experimentada por Lula. O ex-presidente analisa que a dinâmica de polarização no Brasil passou por uma mudança de protagonistas.

“No passado, tínhamos uma polarização mais sofisticada com a esquerda e um centro mais alinhado com princípios democráticos. Atualmente, observamos a presença da esquerda e de uma direita menos progressista e menos qualificada. Contudo, apenas essa alteração não justifica o cenário político atual e as dificuldades enfrentadas pelos governos para estabelecer diálogo com o Congresso e suas lideranças”, afirmou Maia ao Correio.

O membro do Partido dos Trabalhadores (PT) destaca outros fatores, como a perda de confiança por parte de deputados e senadores, que resultou no que ele denomina de endurecimento das leis orçamentárias e no aumento do papel do parlamento.

No início do segundo mandato da Presidente Dilma, já se evidenciava um nível de tensão praticamente irreversível entre os Poderes, uma situação que se agravou nos governos subsequentes. Eu argumentaria que os legisladores estão se tornando mais independentes da influência dos demais Poderes, buscando cada vez mais autonomia. Embora essa autonomia não seja prejudicial quando considerada isoladamente, pode se revelar desastrosa em um contexto de escassa responsabilidade com agendas populares e sociais. Nesse cenário, o Centro deixa de representar uma política eficaz e passa a ser meramente o palco de debates orientados por interesses corporativos, setoriais e não republicanos.”

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