Oficiais estão presos, isso é, de fato, inédito, diz Nilmário Miranda
Assessor da Defesa da Democracia do MDHC destaca fase ímpar que o país vive, com militares de alta patente sendo alvo de busca e apreensão, e alguns, detidos
Detido por três anos durante a ditadura militar, sujeito a torturas e perseguições pelo regime de 1964, o ex-ministro dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, categoriza como “esdrúxula” a controvérsia em torno da possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu círculo de colaboradores civis e fardados serem ou não considerados protagonistas de uma tentativa de um novo golpe de Estado.
Segundo Nilmário, atual assessor especial da Defesa da Democracia, Memória e Verdade, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, esta discussão não é inédita e evoca eventos recentes da história, como o incidente da explosão de uma bomba no estacionamento do Riocentro, no Rio de Janeiro, na noite de 30 de abril de 1981.
Naquela ocasião, durante um show em comemoração ao 1º de Maio, Dia do Trabalhador, dois agentes do Doi-Codi, um órgão criado para reprimir opositores da esquerda, planejavam detonar um artefato no local onde artistas renomados estavam se apresentando. Contudo, a bomba explodiu no interior do veículo em que os dois militares estavam, um modelo Puma. O sargento Guilherme do Rosário perdeu a vida, e o capitão Wilson Machado, ambos do Exército, ficou ferido. Anos mais tarde, Machado foi promovido a coronel.
A Justiça Federal no Rio aceitou a denúncia contra os seis acusados pelo Ministério Público Federal, enquanto o Superior Tribunal Militar (STM) argumentou que o caso estava abrangido pela Lei da Anistia.
Vivemos um momento inédito agora. Temos 16 oficiais da ativa acusados numa tentativa de um golpe de Estado, como apontou a investigação da Polícia Federal. É inédito, repito. Posso estar enganado, mas os militares vão, de novo, reivindicar que, para pacificar o país, melhor que os generais e os outros oficiais não sejam punidos. Não existe isso na Constituição, de não serem punidos diante de tudo que fizeram. Eles se acham acima da lei e da ordem. Têm justiça própria. E quem testemunhou e não tomou atitude também tem responsabilidade.
Como comparar 1964 e agora?
Tivemos quase a volta da ditadura. Estamos revivendo a História. O filme todo volta. Com tudo o que ocorreu a partir de 1964, não tivemos oficiais punidos. Olha o que já aconteceu agora. Esses oficiais, vários generais, sendo alvo de busca e apreensão, outros estão presos. É, de fato, inédito.