O ex-presidente Jair Bolsonaro convocou uma manifestação na cidade de São Paulo no próximo domingo (25/2), em meio às investigações conduzidas pela Polícia Federal sobre um suposto plano de golpe de Estado após as eleições que resultaram na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta quinta-feira (22/2), Bolsonaro deve prestar depoimento à PF, junto com outros investigados, incluindo o general Walter Braga Netto e o general Augusto Heleno. Bolsonaro afirmou que permanecerá em silêncio durante o depoimento e solicitou dispensa, mas o pedido foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito.
Em um vídeo nas redes sociais, Bolsonaro pediu que seus apoiadores realizem um ato “sério, disciplinado e pacífico” no domingo, restringindo a movimentação apenas à capital paulista. O propósito do protesto, segundo ele, é defender “nosso Estado democrático de direito e nossa liberdade”. Bolsonaro solicitou que os manifestantes evitem levar faixas contra “quem quer que seja”.
Cientistas políticos avaliam o protesto como uma “grande aposta de Bolsonaro” para demonstrar força política, apesar de sua inelegibilidade até 2030. O impacto da manifestação dependerá do número de participantes na Avenida Paulista, onde ocorrerá o ato, e da presença de outros nomes relevantes da política, como governadores e congressistas.
A manifestação deste domingo ocorre em meio a uma série de investigações relacionadas a Bolsonaro e sua família, incluindo uma apuração sobre um suposto esquema de negociação irregular de joias recebidas por delegações estrangeiras destinadas à Presidência da República.
O evento também se desenrola duas semanas após a operação Tempus Veritatis, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, que teve Bolsonaro como alvo, juntamente com membros de seu círculo político e militares supostamente envolvidos em uma trama golpista.
A referida operação investiga uma organização acusada de “tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito” nos períodos que antecederam e seguiram as eleições presidenciais de 2022, visando garantir a “manutenção do então presidente da República (Jair Bolsonaro) no poder”.
Quatro indivíduos foram detidos durante a operação: Filipe Martins, ex-assessor especial da Presidência; o coronel do Exército Marcelo Câmara; Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército; e o coronel Bernardo Romão Corrêa.
Segundo a decisão de Alexandre de Moraes, a Polícia Federal obteve evidências de que:
- Bolsonaro teria participado na elaboração de uma minuta de decreto com medidas para impedir a posse de Lula e mantê-lo no poder;
- Militares teriam organizado manifestações contra o resultado das eleições e atuado para garantir a segurança dos manifestantes;
- O grupo em torno de Bolsonaro teria monitorado os passos de Moraes, incluindo o acesso antecipado à sua agenda.
Por ordem judicial, Bolsonaro teve seu passaporte apreendido e está proibido de entrar em contato com outros investigados.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais em 9 de fevereiro, Paulo Cunha Bueno, advogado do ex-presidente, negou que qualquer documento apreendido durante a operação da PF implique o ex-presidente em envolvimento em um “golpe de Estado”.
Na quarta-feira, Bolsonaro reiterou que está sendo alvo de “perseguição política” em entrevista à rádio CBN Recife, questionando os rumos das ações contra ele.
Não é a primeira vez que Bolsonaro convoca manifestações em seu apoio em um momento em que sua relação com o Judiciário encontra-se tensa.
No período de 2019 a 2022, durante seu mandato presidencial, ocorreram uma série de protestos pró-governo com críticas ao Judiciário, mesmo em meio à pandemia de covid-19.
Em 7 de setembro de 2021, por exemplo, Bolsonaro declarou, também na avenida Paulista, que não mais acataria decisões proferidas por Alexandre de Moraes.
“Afirmo a vocês que, qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais”, proferiu em seu discurso.
Dois dias após, frente à repercussão negativa e aconselhado pelo ex-presidente Michel Temer, Bolsonaro divulgou uma “Declaração à Nação” na qual afirmava não ter “intenção de agredir quaisquer dos poderes” e que “as pessoas que exercem o poder não têm o direito de ‘esticar a corda’, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia”.