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Pacheco cobra que Lula se desculpe com Israel

Presidente do Senado classifica de "equivocada" a declaração do chefe do Executivo a respeito do Holocausto. Mauro Vieira é chamado à Casa para esclarecimentos sobre crise

A crise diplomática está refletindo, igualmente, nas instâncias congressuais. No transcurso desta terça-feira, o líder do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), declarou que o Brasil está na obrigação de apresentar desculpas a Israel, à luz das comparações feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre a guerra em Gaza e o Holocausto.

“Ainda que a reação perpetuada pelo governo de Israel venha a ser considerada indiscriminada e desproporcional, não há como estabelecer um comparativo com a perseguição sofrida pelo povo judeu no nazismo”, enfatizou, durante sessão. “Entendemos que uma retratação dessa fala seria adequada. É fundamental que haja uma retratação e um esclarecimento, com um pedido de desculpas, pois o foco das lideranças mundiais deve estar na resolução do conflito entre Israel e Palestina.”

Pacheco enfatizou que, indubitavelmente, a declaração de Lula não reflete a verdadeira posição do presidente, caracterizando-se como uma expressão equivocada.

“O Brasil é reconhecido internacionalmente por sua diplomacia ponderada, e, portanto, devemos evidenciar nossa capacidade de influência, contribuindo para a pacificação do conflito de maneira equitativa.”

O senador Omar Aziz (PSD-AM), que se autodeclarou filho de palestino, contrapôs Pacheco: “Senador, explique-me como classificar o ato de tirar a vida de 30 mil inocentes? Quantos indivíduos classificados como terroristas foram alvo desses ataques? E, além disso, desalojar 1 milhão de palestinos, intimando-os a deixarem suas residências com a instrução de ‘migrem para o gueto, pois pretendemos realizar um ataque’.”

Pacheco ressaltou que, sem dúvida, a declaração de Lula não representa a posição autêntica do presidente, configurando-se como uma manifestação equivocada.

“O Brasil é reconhecido internacionalmente por sua diplomacia cautelosa, e, por conseguinte, é imperativo destacarmos nossa capacidade de influência, colaborando para a pacificação do conflito de forma justa.”

O senador Omar Aziz (PSD-AM), que se identificou como descendente de palestinos, objetou às afirmações de Pacheco: “Senador, esclareça-me como qualificar a ação de ceifar a vida de 30 mil inocentes? Quantos indivíduos designados como terroristas foram alvejados por esses ataques? Além disso, deslocar 1 milhão de palestinos, ordenando-lhes que abandonem suas moradias com a instrução de ‘migrem para o gueto, pois planejamos realizar um ataque’.”

Por sua vez, o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), extendou um convite ao chanceler Mauro Vieira, solicitando sua presença no colegiado para prestar esclarecimentos e responder a “questionamentos e dúvidas” referentes ao caso.

Conforme explicado por Calheiros, está prevista a participação do ministro na Casa durante a primeira semana de março. “Convidei o chanceler Mauro Vieira para comparecer à CRE do Senado e discutir a crise com Israel, fornecendo esclarecimentos sobre questionamentos e dúvidas. O ministro, como de praxe, se mostrou disposto a comparecer já na primeira semana de março, levando em consideração as agendas do G20 e outros compromissos internacionais”, comunicou Calheiros por meio de suas redes sociais.

Na segunda-feira, o governo Lula tomou a decisão de convocar o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para “consultas”. No âmbito diplomático, tal medida é interpretada como uma sinalização clara de descontentamento com a nação parceira. Adicionalmente, ocorreu um encontro entre Vieira e o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, visando esclarecimentos.

Previamente à iniciativa de Calheiros, os senadores da oposição Carlos Viana (Podemos-MG) e o líder do PL, Carlos Portinho (PL-RJ), haviam protocolado uma solicitação para ouvir o ministro na CRE.

Ato da oposição

Na Câmara dos Deputados, membros da oposição ao governo anunciaram sua intenção de formalizar, ainda hoje, a solicitação de impeachment contra o presidente Lula. Embora tenham obtido o apoio de 122 colegas, optaram por adiar a apresentação do requerimento para esta quarta-feira, aguardando possíveis novos apoios.

A proponente do pedido, Carla Zambelli (PL-SP), relatou ter recebido ligações de diversos deputados interessados em assinar, mas que estão em deslocamento para a capital.

Os signatários do pedido utilizaram o Salão Verde, o principal espaço de exposição na Câmara, para proferir discursos contundentes, dirigindo-se de forma veemente contra Lula.

O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) afirmou que Lula deveria estar detido e que o chefe do Executivo tem desonrado a nação. “O presidente está manchando a reputação do Brasil internacionalmente”, argumentou.

Alvo de uma recente operação da Polícia Federal, o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), líder da minoria na Câmara, expressou repúdio à declaração proferida por Lula, destacando que se configura não apenas como um crime de responsabilidade, mas também como um delito contra a humanidade.

“Lula, neste momento, busca reverter a narrativa, apresentando-se como a parte prejudicada desta narrativa. Sua declaração foi inaceitável e, ao invés de manifestar arrependimento, pelo contrário, intensifica suas alegações ao tentar levar o caso de Israel aos tribunais internacionais”, censurou Jordy.

Bia Kicis (PL-DF), figura representativa do bolsonarismo, declarou que Lula se tornou o primeiro presidente brasileiro a ser declarado “persona non grata” por uma nação estrangeira. “É lamentável o que Lula fez. Em Israel, há estátuas de Oswaldo Aranha pelas ruas. Este foi um brasileiro fundamental para a fundação do Estado de Israel, presidindo a ONU na década de 1940. O presidente agiu de maneira inconsequente e irresponsável”, enfatizou.

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